Capa do CD, lançado em 2003
O CD Thelmo Lins Canta Drummond foi idealizado pelo cantor Thelmo Lins, como um projeto para o centenário do poeta, comemorado no dia 31 de outubro de 2002. No entanto, a concretização do patrocínio só aconteceu em janeiro de 2003, retardando o lançamento.
A produção foi capitaneada por Tavinho Bretas e Thelmo Lins. Vários grandes nomes nacionais aceitaram o convite, criando canções que estão sendo registradas pelas primeira vez, como Milton Nascimento, Joyce, Sueli Costa, José Miguel Wisnik, Francis Hime, Tavinho Moura e Belchior. Para completar o elenco, foram convidados nomes da geração de ouro da MPB mineira atual, como Renato Motha, Sérgio Santos, Ladston do Nascimento, Geraldinho Alvarenga e Flávio Henrique.
Os arranjos e a direção musical foram assinados por Geraldo Vianna, que também atuou no projeto como violonista. Integraram o elenco de músicos o violonista Weber Lopes, o pianista e tecladista Ricardo Fiuza, o baixista Milton Ramos, o percussionista Serginho Silva, o violonista e guitarrista Laudares, a violista Cleusa de Sana, a violoncelista Isabele Alves, o pianista Danilo Abreu, o clarinetista William Barros, o flautista Mauro Rodrigues, o violinista Leonardo Lacerda e o baterista André ‘Limão’ Queiroz.
O CD Thelmo Lins Canta Drummond contou com outras participações de peso, como o da cantora lírica Eliseth Gomes, que fez os vocais na faixa “O Deus de Cada Homem”. O cantor Wagner Cosse dividiu com Thelmo Lins os vocais em “Cadeira de Balanço”. O maior destaque, no entanto, foi a participação especial da cantora Maria Bethânia, na faixa “O Mundo é Grande”. Grande influência na carreira de Thelmo Lins, Bethânia registrou no CD uma emocionada interpretação dos versos de Drummond musicados por Sueli Costa. A faixa contou, ainda, com o luxuoso violão de Jaime Alem, um dos maiores violonistas brasileiros atuais.
Thelmo e Bethânia
O disco foi gravado no Estúdio Murillo Corrêa, em Belo Horizonte, de março a junho de 2003.
Vale ressaltar o texto de apresentação do CD foi escrito por Affonso Romano de Sant’Anna, talvez o maior conhecedor da obra do poeta no mundo. Romano fez um breve relato da relação de Drummond com a música, constatando uma certa “inveja” do itabirano em relação à dupla Tom e Vinícius. Arrematando o texto, Romano escreve: “É relevante o fato que esse poetão tenha sido musicado por gerações sucessivas e diferentes de músicos. De seus pares modernistas, como Villa-Lobos, Mignone, passando por músicos experimentais como Edino Krieger e Marlos Nobre, ele chegou à música popular exemplificada neste CD. Isto não significa que sua poesia vai se tornar mais popular por causa disto. Significa, isto sim, que música e poesia voltam a se encontrar. A variedade dos ritmos, o requinte dos arranjos instrumentais e vocais e a voz de Thelmo Lins se fundem aqui harmoniosamente”.
Contracapa do CD
Fazem parte do CD as seguintes faixas (com comentários de Thelmo Lins):
1. Confidência do Itabirano (Carlos Drummond de Andrade e Tavinho Moura) – O poema é uma pequena autobiografia do autor, que se expõe através dos sentimentos que nutre pela terra natal, Itabira. São dele os famosos versos: “Itabira é apenas um retrato na parede. Mas como dói”. Tavinho Moura, exímio compositor mineiro, enfrentou com maestria a liberdade dos versos, construindo uma bela melodia que ganhou arranjo de dois violões e baixo acústico. Geraldo Vianna criou, no final, uma pequena valsa, que remete às serestas mineiras.
2. O Mundo é Grande (Carlos Drummond de Andrade e Sueli Costa), participação da cantora Maria Bethânia e do violonista Jaime Alem. Sueli Costa sempre foi uma mestra em musicar poemas. Ela já havia realizado esta proeza, com brilhantismo, nas parcerias com Cecília Meirelles e Fernando Pessoa. Desta vez, a compositora mineira (nascida em Juiz de Fora) elabora uma linda melodia para esse pequeno poema de Drummond que é uma ode ao amor e à vida. Bethânia e Jaime Alem marcam presença, com interpretações emocionantes.
3. Anoitecer (Carlos Drummond de Andrade e José Miguel Wisnik) – Desde que li pela primeira vez o poema, vi nele a música de Wisnik, um compositor que muito admiro. Qual foi a minha surpresa quando ele escolheu, dentre vários poemas que lhe enviei, justamente este contundente texto de Drummond, que foi publicado em seu célebre “A Rosa do Povo”. Nem precisa dizer que tudo funcionou bem. O arranjo de Geraldo Vianna trouxe para a canção acordes orientais, que ressaltam a atemporalidade do texto.
4. Cantiga de Viúvo (Carlos Drummond de Andrade e Ladston do Nascimento) – Ladston guardava, em seu baú de pérolas, esta belíssima melodia para um poema de Drummond que já havia sido musicado por outros compositores, dentre eles Villa-Lobos. Particularmente, acho a melhor versão, pois respeitou a tristeza e a espiritualidade da canção.
5. Mulher Andando Nua pela Casa (Carlos Drummond de Andrade e Flávio Henrique) – Flávio é um desses grandes talentos que aparecem de vez em quando para mudar a história. Que bom que é a história de Minas e, melhor ainda, que podemos conviver com ele e conseguir dele uma obra-prima como esta maravilhosa canção. Inspiração jazzística, que realça a sensualidade deste poema da fase erótica do poeta. A clarineta de William Barros é a própria figura feminina, serpenteando pelos cômodos da casa.
6. Cadeira de Balanço (Carlos Drummond de Andrade e Joyce), participação do cantor Wagner Cosse – Joyce embarcou neste CD, me presenteando com a linda “Cadeira de Balanço”. É nítida a ponte que ela faz entre o Rio e Minas Gerais, com ecos do Clube da Esquina. Para me ajudar nos versos deliciosos de Drummond, convidei uma grande voz amiga, o cantor Wagner Cosse, que já havia participado dos CDs “Nada Será Como Antes” e “Encontro dos Rios”.
7. O Deus de Cada Homem (Carlos Drummond de Andrade e Milton Nascimento), participação da soprano Eliseth Gomes – Foi especialmente prazeroso, para mim, a participação de Milton Nascimento neste projeto. Compositor e cantor que admiro e fonte inspiradora de todos nós, Bituca me concedeu o direito de cantar pela primeira vez esta belíssima canção, que tem versos fortes e bastante atuais. Resolvi dividir os vocais com uma cantora que admiro há tempos: Eliseth Gomes, que trouxe para o CD os ecos da negritude lírica.
8. No meio do caminho (Carlos Drummond de Andrade e Sérgio Santos) – Sérgio vem se estabelecendo como um dos maiores compositores brasileiros atuais. Por isso, e por conhecer um pouco de sua obra, achei que ele seria a pessoa ideal para destrinchar o mistério deste poema-símbolo, talvez o maior conhecido de Drummond. O convite foi aceito e, como não poderia deixar de ser, veio uma canção originalíssima. Ponto para o arranjo, que imprimiu maior dramaticidade ao material.
9. Volta (Carlos Drummond de Andrade e Belchior) – Belchior me procurou, oferecendo-me esta canção, que faz parte de um projeto dele de gravar um CD com poemas de Drummond musicados por ele mesmo. A primeira vez que a ouvi, durante um show que apresentamos no auditório do Museu Abílio Barreto, fiquei emocionado com a música, de acento nordestino, em cima do texto do poeta de Itabira que reverencia a memória de seu amigo Manuel Bandeira. O belo arranjo de Geraldo Vianna enfatizou o saudosismo dos versos.
10. Canção Amiga (Carlos Drummond de Andrade e Milton Nascimento) – Quando Milton Nascimento topou musicar um poema de Drummond para este CD, pediu à produção que fosse regravada esta música que, originalmente, foi registrada pelo próprio Milton no antológico “Clube da Esquina 2”, de 1978. Aceitei a incumbência com humildade, buscando imprimir ao arranjo a minha visão da canção, que já interpretava em meus shows. E, é claro, lembrei de minha mãe, e do poder que as mães têm na formação de todos nós. Lindo o arranjo, que trouxe à tona o violino de Leonardo Lacerda.
11. Ser (Carlos Drummond de Andrade e Renato Motha) – Este talvez seja um dos mais belos poemas de Drummond, que consta em várias seleções de suas melhores obras. Apaixonei-me por ele logo que o li e descobri que Renato Motha também tinha um carinho especial pelo texto. Não deu outra: uma melodia de grande beleza, onde Motha ressalta dos apelos dos filho oitavando a linha do canto. O flautista Mauro Rodrigues brilha.
12. Inaugura-se o Retrato (Carlos Drummond de Andrade e Francis Hime) – Um dos maiores compositores brasileiros, Hime dá um show neste chorinho carioca, que tem uma linha de canto elaborada, que obriga o intérprete a ser quase um instrumento de sopro. Um prazer cantá-lo, acompanhado por essas feras, em especial Weber Lopes, na guitarra.
13. Canção de Namorados (Carlos Drummond de Andrade e Geraldinho Alvarenga) – Desde que li este poema, publicado no livro “Poesia Errante”, quis que fosse musicado. Quem poderia enfrentar esta tarefa? Lembrei-me de Geraldinho Alvarenga, chorão do primeiro time de músicos mineiros, que fez um samba de breque. Alvarenga, que também é itabirano, demonstra que conhece bem a alma do poeta.
Thelmo Lins (foto de Carlos Altman)
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